Ave pescoçuda por Zé Bezerra

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Não se pode falar de Zé Bezerra sem antes situá-lo em seu habitat, o Vale do Catimbau no grande sertão de Pernambuco, um dos mais importantes sítios arqueológicos brasileiros e um verdadeiro santuário ecológico. Entre fósseis de animais pré-históricos e inscrições rupestres de mais de 5.000 anos, com registros da vida e dos costumes dos primeiros habitantes da região, Zé, como é chamado, vai esculpindo o seu legado. Lá vive com a esposa e filhos numa casa de taipa, cuja parede da entrada é adornada por figuras abstratas, pontilhadas com pedrinhas colhidas uma a uma na região mística do Vale.

“Meus filhos nem minha mulher não entendem mas eu sou dentro da madeira” e foi ela quem chamou o mestre em sonho, há alguns anos atrás, dizendo que ele era um artista. E ele não duvidou, foi para a mata e lá escutou o que a madeira dizia e ela se deixou moldar por ele.

Sem interferir demais na matéria prima, que são galhos retorcidos, raízes, e troncos mortos que para muitos são inúteis, o Mestre Zé Bezerra - como é mais conhecido – observa o que eles insinuam e então com o facão, grosa e até serrote, mostra de forma rústica o que para ele a madeira sempre foi, mas esperava o Mestre Zé para revelar.

Suas peças são conhecidas mundialmente pela originalidade e temática sincera que vão desde seu cotidiano em Buíque – sertão de Pernambuco, onde nasceu e vive até hoje – até sonhos e o folclore brasileiro.
Há uns dez anos ele teve um sonho em que era chamado a realizar os trabalhos que faz hoje em dia. Deveria tornar-se artista. A partir daí ele passou a olhar as madeiras que o cercavam e a intervir nelas. Zé não esculpe de forma tradicional, atuando sobre um bloco de madeira de modo a alcançar uma forma definida. Procura ver uma figura que já se insinua no lenho.
Para ele, se trata de alcançar uma imagem e simultaneamente manter seu vínculo com a madeira bruta de que partiu e com os instrumentos e gestos que nela agiram. Essa decisão confere a suas esculturas uma intensidade incomum. José trabalha em geral com toras retorcidas, típicas da vegetação do lugar, como é o caso da umburana.
A definição oscilante das figuras se une à tortuosidade da madeira, e essa relação faz com que percebamos formas que parecem lutar para emergir, em meio ao embate entre a matéria vegetal e a intervenção escultórica rude e parcimoniosa. Vem daí a expressividade singular de suas obras.
Quando fala de sua arte, o artista enfatiza o papel da imaginação no que realiza. Assim, a importância que atribui ao ato de ver imagens em troncos e galhos que acha pelos arredores de seu sítio encontra na imaginação um elemento que afasta suas peças de um realismo singelo. Para José Bezerra, ver significa abrir a matéria natural, a madeira, para possibilidades que a afastem de uma identidade preguiçosa consigo mesma, bem como de um uso apenas instrumental. 
A natureza que se depreende de suas obras tem uma vida intensa, uma energia inesgotável e atormentada. Ela lembra as descrições que Euclides da Cunha faz da região de Canudos, na primeira parte de Os sertões, “A terra”: “(...) árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante...”.          

Zé já expôs suas obras em grandes galerias do Brasil e em países da Europa como Alemanha, França, Itália e Portugal. Abaixo algumas exposições individuais e coletivas:

2015 José Bezerra | Esculturas, Galeria Estação, São Paulo | SP
2014 Vivid Memories Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris – França
2014 Quase figura, quase forma Galeria Estação , São Paulo | SP – Brasil
2013 Mundos Cruzados: ARTE E IMAGINÁRIO POPULAR, MAM, Rio de Janeiro |RJ 
2013 José Bezerra | esculturas ,Centro Cultural Matarazzo, Presidente Prudente | SP
2013 Mundos Cruzados: ARTE E IMAGINÁRIO POPULAR, MAM, Rio de Janeiro |RJ 
2013 SP-Arte, Pavilhão da Bienal, São Paulo | SP
2012 2013 Janete Costa “Um Olhar”, Museu Janete Costa, Niterói | RJ 
2012 Mix Max Brasil, Tropenmuseum junior, Amsterdan - Holanda 
2012 Histoires de Voir, Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris | França
2012 Teimosia da Imaginação – dez artistas brasileiros, Paço Imperial, Rio de Janeiro | RJ 
2012 Teimosia da Imaginação – dez artistas brasileiros, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo | SP 
2011 SP-Arte, Pavilhão da Bienal, São Paulo | SP
2010 Exposição Puras Misturas, Pavilhão de Culturas Brasileiras, São Paulo | SP

2010 Bienal de Piracicaba, Piracicaba | SP
2010 Arte Brasileira: além do sistema, Galeria Estação, São Paulo | SP 
2010 José Bezerra | Esculturas, SESC Bauru, Bauru | SP
2010 José Bezerra | Esculturas, SESC São Carlos, São Carlos | SP
2010 José Bezerra | Esculturas, Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte | MG
2010 José Bezerra | Esculturas, Museu Paulo Setúbal, Tatuí | SP 
2009 SP Arte, Pavilhão da Bienal, São Paulo | SP 
2009 Feira Casa Brasil, Parque de Eventos Bento Gonçalves, Bento Gonçalves | RS
2009 Feira Art Madrid, Pabellón de Cristal, Madrid | Espanha
2009 José Bezerra | Esculturas Galeria Estação, São Paulo | SP 
2008 18º Mostra Artefacto, Artefacto espaço Mario Santos, São Paulo | SP
2007 Do tamanho do Brasil, SESC Paulista, São Paulo | SP

Espeficiações tecicas:
Material: Madeira
Medidas: 54cm x 24cm x 29cm (altura x largura x profundidade)
Peso: 2,96kg
Artista: Zé Bezerra

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